terça-feira, 28 de setembro de 2010

etapas...



É sempre preciso saber quando uma etapa chega ao final.Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos de viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Pode passar muito tempo a perguntar o porquê de ter acontecido.. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas a acontecer, que eram tão importantes e sólidas na sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: os seus pais, os seus amigos, os seus filhos, os seus irmãos, todos estarão a encerrar capítulos, a virar a folha, a seguir em frente, e todos sofrerão ao ver que você está parado. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem connosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está a acontecer no nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém joga nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que lhe devolvam algo, não espere que reconheçam o seu esforço, que descubram o seu gênio, que entendam o seu amor. Pare de ligar a sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso estará apenas a envenená-lo, e nada mais. Não há nada mais perigoso que relações amorosas que não são aceites, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que são sempre adiadas em nome do "momento ideal". Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerre ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, limpe a poeira. Deixe de ser quem era, e transforme-se em quem é. Torna-se uma pessoa melhor e assegura-se de que sabe bem quem é, antes de conhecer alguém e de esperar que ele veja quem você é. E lembra-se: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão!

Fernando Pessoa

1 comentário:

Catarina disse...

Recomeça…
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...


Miguel Torga

<3